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Apanhadores de sonhos 2 / 4

Escrito por Bruno Peres | Postado como | às 14:32

O frio da manhã ainda me incomoda. O pequeno quarto em que fui jogada até que é bastante aconchegante, uma cama limpa acompanhada de bons cobertores é tudo o que eu preciso nesse momento. Meus sapatos ainda estão sujos de terra e algumas folhas ainda caem de minhas roupas. Estou sozinha e pela única janela aberta é possível ver os primeiros raios de sol iluminarem uma floresta densa e recoberta de neblina.

Deitei-me para tentar colocar meus pensamentos no lugar, a última coisa da qual me lembro foi de ver Pedro me acenando de seu carro após uma longa conversa sobre o futuro de nosso relacionamento. Nossa vida não estava nada bem, ele realmente me achava muito distante e eu não dei muita atenção às suas palavras, não percebi como as pessoas estavam se afastando de mim até ler essa carta. Sim! A carta! Ela dizia algo para não dormir...



... Levanto rapidamente antes que aqueles volumosos edredons me acolham de vez, mesmo sem entender o porquê disso tudo era como se algo dentro de minha consciência dissesse para acreditar naquelas palavras. Era como se agora eu pudesse entender todas aquelas palavras mesmo sem entender o que se passa comigo. Talvez esperar seja a única solução para toda a confusão que se passa na minha vida.

Tento sair do dormitório e por mais incrível que pareça a porta está aberta. Um gostoso cheiro de frango vem da cozinha e com apenas alguns passos posso atravessar toda a cabana. Construída em madeira e com apenas três cômodos não muito bem arrumados alguém preparou algo de comer e o deixou para mim. A sala denunciava um típico lar masculino, com restos de comida próximo ao sofá e algumas roupas jogadas na poltrona ao lado da porta. Todas as janelas estavam apenas com os vidros abertos, era como seu eu estivesse sendo observada, mas ainda conseguia sentir uma solidão confusa. O que eu estava fazendo no meio de uma floresta em uma cabana que parecia ser preparada para aquilo? Acordo em um quarto aconchegante o bastante para ser algo do tipo cativeiro e um estranho bilhete escondido atrás do único quadro próximo à cama, como se alguém soubesse que eu fosse procurar exatamente ali. Palavras feitas para mim, como se alguém soubesse o que eu queria ouvir nesse momento confuso.

Sinto medo por desconhecer meu presente e meu futuro, mas ao mesmo tempo me sinto forte por não ter desmoronado em lágrimas. Talvez no fundo eu soubesse que isso fosse acontecer e não fiz muito para evitar, talvez sentisse que meu destino estaria prestes a tomar um novo rumo, mas ainda não sei qual será. Muitas dúvidas permeiam sobre minha cabeça e essa sopa de frango está com um cheiro bom demais para ser ignorada. Uma consistência perfeita, pedaços de legumes e até um suco... hum... Praticamente uma pousada feita sob medida para minhas vontades, minha doce vontade de ganhar a liberdade de meus pais e a independência de levar uma vida sozinha. Como alguém poderia saber que eu adoro sopa de frango com legumes?


Ainda em seus últimos momentos, Clarissa consegue ter forças para girar levemente a pequena chave. Ela não tinha certeza do que fazer, não sabia onde estava e muito menos em quem confiar. Não sabia se ouvia seus pensamentos, seus instintos ou seu coração e a última cena em sua mente foi a de um garoto pegando-a nos braços e de uma porta se fechando.....
Nada melhor que um bom descanso após uma refeição sob medida, ainda mais ao som de suaves gotejos no fino telhado de meu novo lar. Estranho como me sinto em casa, à vontade para tirar os sapatos e descansar....

- Clarissa! Abre a porta!!! – Batidas fortes parecem vir da pequena dispensa, uma portinhola no canto da cozinha, tão pequena que tinha passado despercebido aos olhares da jovem que agora estava assustada com tudo o que ouvia.

- Quem está ai? Quem é você?
- Clarissa, eu sou o dono da carta que você já deve ter lido, você não...
- Como sabe meu nome?? – Uma estranha conversa entre a porta só deixava a menina mais confusa – Quem é você?
- Calma, eu não posso te explicar tudo agora, apenas confie em mim. Abre essa porta antes que eles cheguem...
- Eles quem? O que esta acontecendo? Meu Deus....
- Clarissa, você precisa me escutar. Se eles voltarem e você estiver dormindo eu não vou poder mais te ajudar...
- Eu não... – A voz da garota começa a ficar cada vez mais fraca e seus movimentos começam a perder força – Eu não posso...
- Clarissa, apenas gire a chave!!! Gire a chave!!!

Ainda em seus últimos momentos de lucidez a jovem começa a perder os sentidos e cai de joelhos diante da pequena portinhola ao canto da cozinha. O cheiro de comida ainda é tentador e ao fundo pode-se ouvir o som de uma caminhonete se aproximando. Por todos os estouros e barulhos que acompanham o veículo não deve ser nada muito novo que está para chegar à velha cabana fixada no meio da floresta.



Ao som de: Something for the pain - Bon Jovi

Sobre o Autor:
Bruno Peres Bruno Peres (brunoperes03@yahoo.com.br) Formação em Comunicação Digital com Especialização em Web Presence pela Universidade de Toronto é um RPGista por natureza e solteiro por incompetência, tenta ser escritor nas horas vagas e adora contar causos de sua vida entre amigos. É editor e escreve para o site da A4A e mantém o Twitter @bperes


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Comments (2)

intrigante.
mal posso esperar pelo 3/4

Em varias ocasiões me deparei com portas misteriosas... na maioria das vezes a curiosidade falou mais alto e nao resisti. Com isso descobri coisas que nem em uma vida inteira seria necessario para ser decifrado...
Descobri que por mais que eu achasse que estava sozinho, o meu proprio "eu" tomou a atitude de criar companhias...

frase do momento: ..."Muitas dúvidas permeiam sobre minha cabeça e essa sopa de frango está com um cheiro bom demais para ser ignorada."...

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