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Apanhadores de Sonhos 3/4

Escrito por Bruno Peres | Postado como | às 18:57

Em meio a fria neblina o silêncio matutino era quebrado com a velocidade em que ele corria. As gotas de orvalho caiam aos montes sobre seus ombros, a ponto de acordarem a jovem Clarissa:

- O que está havendo... – Seus sentidos ainda não estavam completamente recuperados, o balançar dos movimentos forçava seu estômago contra os ombros de um estranho garoto. – Me larga, me larga!!
- Calma Clarissa, não podemos parar agora...
- Eu não sei quem é você e muito menos para onde está me levando... – e a menina balançava seus pés cada vez mais rápido.
- Você sabia onde estava? – A pergunta seca do jovem rapaz trouxe um silêncio oportuno e acalmou-a em poucos segundos. – Sabia quem eram as pessoas que te acordariam caso eu não chegasse?

- Mas também não sei quem é você e...
- E você abriu a porta para que eu entrasse. Se fez isso era porque queria que eu a tirasse de lá...
- Me larga.... eu já posso andar sozinha... – mais alguns movimentos com as pernas e uns tapas nas costas foram o suficiente para que seu salvador a soltasse.
- Eu te solto, mas se pararmos agora eles nos alcançarão.
- Por que eu deveria lhe dar ouvidos? Eu...
- Isso se chama Fé!
- Eu não sou religiosa...
- E não precisa ser para acreditar em algo, basta ter vontade e isso você tem.
- Você não me conhece, como pode dizer algo sobre mim?
- Você leu a minha carta não leu? Leu como vim parar neste lugar, não leu?
- Li sim... e
- E o que viu em comum com sua vida?
- Bem...
- Clarissa, eu passei pelos mesmo problemas que você. Eu também perdi minha vida lá onde vivíamos e...
- Vivíamos? Como assim? Eu quero voltar pra minha casa...
- Eu também quero. Todos nós queremos...
- Todos nós? Você não é o único que...
- É exatamente isso que preciso te explicar mas, não pare de andar, não podemos nos atrasar nem um único minuto senão serei deixado para trás...

- Espera ai! – E uma parada repentina da garota mostrava sua indignação por não saber o que realmente estava acontecendo. – Qual o seu nome garoto? Quem vai te deixar pra trás? Onde estamos? E...
- Calma eu...
- Calma nada!!!
- Eu sou Gabriel. – O jovem de cabelos curtos e olhos castanhos estende sua mão. – Prazer! Satisfeita agora?
- Nossa, não precisa falar assim também, eu...
- Clarrisa, não podemos ficar parados aqui, temos que chegar a tempo de...
- Tá! Eu vou andar com você, mas se pelo menos me contar o que está acontecendo eu poderei te ajudar.
- Quem vai precisar de ajuda será você...
- Faz tempo que preciso de ajuda. Minha vida está um caos há algum tempo...
- Você confiou nas pessoas erradas garota, você não devia ter contado sobre seus sonhos ao Pedro..
- Hei! Como você sabe sobre...
- Sobre seus sonhos? Ou sobre seu ex-namorado?
- Como você sabia que alguém ia ler sua carta atrás do quadro? – Clarissa ficava mais confusa a cada palavra que Gabriel dizia.
A gélida neblina da manhã começava a se dispersar, os caminhos pela densa floresta eram confusos e molhados. Havia mato por toda a roupa dos dois desconhecidos.

- É aqui! – o jovem para repentinamente e olha para marcas em algumas árvores, passando seus dedos como se lembrasse de algo.
- O que é aqui? – Clarissa estava completamente perdida. – Porque você parou?
- É aqui que eles virão me buscar e você precisa saber de algumas coisas..
- Eu preciso saber de muitas coisas!
- Você deve voltar até a casa durante esta noite...
- De jeito nenhum! Eu vou com você e com essas pessoas que virão te buscar...
- Você não pode!
- E quem é que disse isso? – O tom de voz dem ambos começava a aumentar e alguns pássaros voaram espantados. – Eu não vou voltar a lugar nenhum e não vou fazer nada que...
- Clarissa, você leu minha carta? Aquela menina que eu vi em meio a um ritual é você!
O costumeiro silêncio ensurdecedor fez o coração da menina disparar, seus pensamentos voaram de volta à seus últimos dias antes de acordar naquela cabana.

- Eu? Como... como assim eu...
- Meu sonhos vêem como premonição e às vezes como lembranças e revelações. Eu não sei bem lidar com isso ainda mas...
- Eu também tenho sonhos e...
- Eu voltei até a cabana por você, eu sonhei com você o tempo todo. Eu sonhei com você contando sua vida para seu namorado e...
- O que você viu Gabriel? O que você viu?
- Eles... – seu olhar desviava dos olhos de sua inquisidora. – Eles o pegaram...
- Eles quem? Me conta o que está acontecendo aqui!!!! – seu leve grito ecoou pela mata.
- Não grita!! Ninguém pode saber que estamos aqui. Eu preciso ir ou nunca mais seremos encontrados. Assim como eu fiz por você, agora é sua vez de salvar a pessoa que está em seus sonhos. Você deve voltar e deixar uma carta e deve esperar pelo melhor momento para entrar e tirá-la de lá...

- Mas... mas eu nunca fiz tal coisa antes na minha vida. Eu não consigo...
- Eu também nunca tinha feito, mas eu precisava te salvar.
- Mas você não me conhecia, porque ficou?
- Nós não conhecemos ninguém Clarissa. Cada pessoa possui seus próprios sonhos, desejos, pensamentos. Muita gente que você acha que conhece na verdade você talvez não saiba nada. Quando vim pra esse lugar eu fiquei sozinho, então percebi que eu já estava sozinho há algum tempo, eu estava sendo perseguido e todas as pessoas ao meu redor sumiram, ninguém acreditou em mim e minha namorada achou mais fácil dar um tempo e seguir a vida dela. Então a única coisa que podia manter uma esperança em mim era poder te salvar. Agora, eu preciso mesmo ir.

- Você não fez isso por mim Gabriel, fez isso por você!
- Como você pode dizer isso? Eu tirei você daquele lugar, eles iam te matar!!!
- Como você sabe? Se você se preocupa mesmo comigo, porque não me ajuda a salvar essa criança?
- É uma criança?
- Sim... é uma garotinha...
- Eu não posso Clarissa, eles não vão me esperar...
- Deixa eles irem, vem comigo.
- Não podemos fazer isso...
- Porque não? Você acreditou que podia me salvar porque não acredita que podemos mudar isso tudo?
- Eu não acreditei, eu sonhei...

Ao som de:
James Morrison - You give me something

Sobre o Autor:
Bruno Peres Bruno Peres (brunoperes03@yahoo.com.br) Formação em Comunicação Digital com Especialização em Web Presence pela Universidade de Toronto é um RPGista por natureza e solteiro por incompetência, tenta ser escritor nas horas vagas e adora contar causos de sua vida entre amigos. É editor e escreve para o site da A4A e mantém o Twitter @bperes


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Comments (2)

"os mais perigosos são aqueles que sonham acordados"...

a muito tempo decidi apenas sonhar e deixei o lado chato de "viver" com os outros.


ja se decidiu?

dicas de leitura: Sandman

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